No mundo do anime Jujustu Kaisen, o personagem Satoru Gojo apresenta uma habilidade impressionante chamada Mugen (infinito). Essa técnica permite que Gojo manipule o espaço ao seu redor, causando a desaceleração de objetos que se aproximam dele. Esse conceito intriga não apenas os fãs de anime, mas também os entusiastas da física, pois tem raízes profundas nos princípios fundamentais da ciência.
Revisitando os Fundamentos da Física
Para compreender melhor essa habilidade do Mugen de Satoru Gojo, podemos recorrer aos conceitos básicos de Física do Ensino Médio. Dois conceitos fundamentais são a velocidade média e a aceleração. Eles nos ajudam a entender como objetos se movem.
Velocidade Média: A velocidade média é simplesmente a razão entre a distância total percorrida e o tempo total gasto para percorrer essa distância. Se, por exemplo, você caminha 300 metros em 60 segundos, a sua velocidade média é calculada dividindo-se 300 metros por 60 segundos, resultando em 5 metros por segundo (m/s).
Aceleração: A aceleração mede como a velocidade de um objeto muda ao longo do tempo. Se você começa a se mover a 2 m/s e, após 60 segundos, está se movendo a 8 m/s, sua aceleração é a mudança de velocidade (de 2 m/s para 8 m/s, uma mudança de 6 m/s) dividida pelo tempo em que essa mudança aconteceu (60 segundos), resultando em uma aceleração de 0.1 m/s².
Agora, vamos explorar o que acontece quando aumentamos a distância de um movimento:
Suponha que a distância percorrida dobre de 300 para 600 metros. Se você mantiver a mesma velocidade média de 5 m/s, agora levará 120 segundos para completar o percurso. E se a sua velocidade inicial ainda é de 2 m/s e a final é de 8 m/s, a aceleração é recalculada dividindo-se a mudança de velocidade pelo novo tempo total (120 segundos). Isso resulta em uma aceleração de 0.05 m/s².
Se dobrarmos a distância novamente, para 1.200 metros, e mantivermos a mesma variação de velocidade, o tempo necessário para percorrer essa distância aumenta, e a aceleração diminui para 0.025 m/s².
Este exemplo mostra que, à medida que aumentamos a distância percorrida mantendo a mesma variação na velocidade, a aceleração do movimento diminui. Isso pode levar à percepção de que o objeto está quase parado, especialmente se a aceleração se tornar muito pequena. É uma ilustração importante de como as propriedades do movimento, como velocidade e aceleração, influenciam a nossa percepção da realidade física.
O Mugen e a Relação entre Espaço e Desaceleração
Ao aumentarmos a distância percorrida, a aceleração dos objetos em relação a Gojo diminui. Isso significa que, mesmo mantendo uma velocidade constante, a desaceleração dos objetos se torna mais evidente à medida que aumentamos o espaço entre Gojo e o objeto em movimento.
Por exemplo, se dobrarmos a distância para 600 metros, a aceleração cai pela metade, e ao quadruplicarmos para 1.200 metros, a aceleração diminui ainda mais. Isso explica a sensação de que um objeto parece parar de se aproximar quando, na verdade, sua aceleração diminuiu significativamente.
Paradoxo de Zenão e a Tartaruga
É interessante notar que essa manipulação do espaço e tempo em Jujustu Kaisen e Doctor Who remete ao paradoxo de Zenão sobre Aquiles e a Tartaruga. Esse paradoxo desafia a noção intuitiva de movimento e nos lembra que, mesmo quando parece que um objeto parou de se mover, ele ainda está em movimento, mesmo que em uma velocidade infinitamente pequena. Essa ideia está intimamente ligada à manipulação do espaço e tempo representada nas obras discutidas.
Paralelos com Doctor Who
No arco 082 – Pyramids of Mars (para mais informações sobre o arco https://universowho.com/arco-082-pyramids-of-mars/) o Doutor enfrenta nada mais do que um antigo Deus Egípicio chamado Sutekh, que foi selado pelo Deus Hórus em uma prisão na forma de pirâmida localizada em Marte. Neste arco o Doutor faz de tudo para impedir que Sutekh quebre o selo que o prende, mas no final tudo é em vão, o selo se quebra, Sutekh livre agora adentra um portal que permite transitar entre sua prisão e a Terra na velocidade da luz.
Contudo, o Doutor em um lampejo percebe que ainda não é o fim. Corre para a TARDIS e vai até a saída do portal na Terra, levando consigo uma parte do painel de controle da TARDIS, e ao conectá-la no portal, anuncia que Sutekh está preso numa armadilha temporal.
Além disso, ao conectar uma parte do painel de controle da TARDIS ao portal, o Doutor prolonga ainda mais o tempo dentro do portal, causando um efeito temporal ainda mais pronunciado.
Ou seja, o portal conectava Marte até a Terra (varia entre 54.000.000 km e 401.000.000 km) na velocidade da luz (300.000 km/s). Assim, o tempo de viagem seria entre 3 e 22 minutos.
Agora perceba que essa “armadilha temporal” que o Doutor criou segue o mesmo princípio do Mugen de Satoru Gojo.
Para que se passem mais tempo neste portal, é preciso que aumentemos o espaço a ser percorrido. No caso, para que passasse 7.000 anos o Doutor precisou alterar o comprimento do portal que antes media entre 54 e 401 milhões de quilômetros, para mais de 66 quadrilhões de quilômetros (66.270.960.000.000.000 km).
Reflexões Finais
A manipulação do tempo e do espaço em Jujustu Kaisen e Doctor Who desafia nossa compreensão dos conceitos físicos fundamentais. Essas narrativas nos lembram que a ciência e a ficção muitas vezes se entrelaçam, oferecendo insights fascinantes sobre os limites do nosso entendimento do universo. Através dessas histórias, somos levados a refletir não apenas sobre os mistérios do universo, mas também sobre a natureza da realidade e da existência humana.
Referência: SILVA, Marcos Henrique de Paula Dias da. Mugen em Doctor Who (1975). In: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS. Zero – Blog de Ciência da Unicamp. Volume 11. Ed. 1. 1º semestre de 2024. Campinas, 17 mar. 2024. Disponível em: [link]. Acesso em: 17 mar. 2024.
